quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Anatomia do Ujjáyi “Respiração forçada consciente” Ujjáyi significa vitorioso; da raiz ujji – conquistar



         O prána, o ”motor evolutivo” que encontramos em todos os 5 elementos da natureza de que também somos feitos (terra, água, fogo/luz, ar e éter/espaço) não se encontra apenas e concretamente naquilo que nos proporciona força  e saúde (luz solar, ar, água  e alimentos). Ele encontra-se também, e num nível súbtil nas emoções positivas (alegria, amor, serenidade) - As emoções são a contrapartida física para cada sentimento porque  reflectem-se no nosso corpo. No entanto, como a fonte mais importante de prána (bio-energia) se encontra na atmosfera, é por meio do pránáyáma que controlamos a  sua captação e distribuição no nosso ser.
Embora descrito como uma técnica específica de pránáyáma, o Ujjáyi acontece espontaneamente em estados de concentração intensa e meditação profunda. Acontece igualmente e espontaneamente em animais em situação de perigo, como reflexo para protecção da vida (estado de vigilância acrescido);  também em crianças pequenas quando brincam montando legos ou resolvendo problemas, e também em adultos em situações de stress. Em circunstâncias de stress, a tensão muscular e reflexa da laringe induz a uma forte redução na entrada de ar pela glote, resultando em prolongadas expirações e elevada pressão intra-toráccica. Como resultado, eleva-se muito a pressão sanguínea e aumenta o CO2 no sangue (hipercapnia). Esta respiração está, portanto associada a factores sociais de atenção, expectativa e ansiedade em comportamentos defensivos. O estímulo original deste padrão deriva de uma área chamada de vigilância, situada no hipotálamo e habilita o animal/indivíduo para o reflexo de luta ou fuga tornando-o extremamente vigilante.
No Yoga, o Ujjáyi é auto induzido num ambiente em que não existe eminência de perigo ou qualquer expectativa.
Em qualquer pránáyáma, alteramos toda esta atmosfera de excitação para um ambiente de relaxamento físico e mental. A respiração é feita consciente e activamente sem necessidade de compensar súbitas exigências bio-físicas, dado que não há actividade física paralela. Trata-se de uma respiração voluntária com uma profunda dimensão espiritual, que engloba ritmos, ciclos e frequências específicos. Neste processo a frequência respiratória e cardíaca permanecem baixas, salvo em alguns pránáyáma específicos especiais.
O Ujjáyi consiste num bloqueamento consciente e parcial da glote, com consequente aumento da resistência à passagem do ar na inspiração e na expiração. As narinas permancem relaxadas e passivas (não queremos cheirar o ar, queremos apenas sentir as correntes frescas na inspiração e quentes na expiração). O som (de vento) produzido nesta técnica não advém das cordas vocais, mas da fricção do ar quando passa na laringe e ajuda a manter a atenção focada.  Ao contrair a laringe cria-se também uma ligeira contracção dos músculos inter-costais expandindo a área de “atrito” até ao peito. Este aumento da pressão intra-pulmonar, aumenta o efeito de sucção exercido nos pulmões e activa a circulação venosa.  Resultando num aumento da temperatura corporal, esta técnica é por vezes utilizada como pré-aquecimento, nomeadamente das articulações, tão necessário para exercícios mais intensos.
Já conhecemos por experiência, o efeito do nosso estado emocional sobre a nossa respiração autónoma. Sabemos que a vida apressada que levamos e até o exercício físico exigente que muitas vezes escolhemos para praticar exigem uma maior captação de O2, ou seja maior frequência de ventilação automática. A intensa actividade muscular leva igualmente a um aumento da frequência cardíaca e, consequentemente, a estados de excitação esgotantes no organismo físico e mental (necessidade acrescida de energia e necessidade acrescida de eliminação dos produtos residuais resultantes do processos de combustão das células). 
Por isto, temos tendência para sobrevalorizar a necessidade O2 no nosso organismo, mas devemos também entender que a presença do CO2 é muito importante. É que mais O2 no sangue não quer necessariamente dizer melhor oxigenação celular (mais ou menos como ingerir nutrientes excessivamente, não quer dizer maior assimilação pelo organismo / mais ar a passar nos pulmões não significa mais O2 a passar para a corrente sanguínea – ver Efeito de Bohr); é necessária também a presença do CO2. A afinidade ou o apego da hemoglobina (proteína transportadora de O2) ao oxigénio depende do PH e do dióxido de carbono no sangue. Tanto H+ (iões de hidrogénio ou protões) como CO2 (dióxido de carbono) promovem a libertação do O2 (oxigénio) ligado. Quando o nível de CO2 no sangue ou o seu PH são  muito baixos, a hemoglobina agarra-se ainda mais ao O2 que carrega em si. Então apesar de haver muito O2 no sangue, ele não está disponível para as células. Consequentemente aumentamos a frequência respiratória como resposta e em vez de aliviar a sensação de falta de ar, podemos agravar os sintomas (porque sempre que aceleramos a respiração sem acelerar o seu metabolismo, libertamos demasiado CO2, levando a um aprisionamento do O2 na Hemoglobina e a uma aumento da pressão sanguínea devida a contracção reflexa dos vasos sanguíneos – atenção às hiperventilações crónicas).
No Ujjáyi, a respiração lenta, a resistência aplicada na glote e o consequente aumento de pressão nos pulmões ajudam a uma maior absorção de O2, mantendo CO2 suficiente para manter o equilíbrio entre estes 2 gases.
No Ujjáyi, por acção reflexa, é estimulado o tonus vagal, a actividade parassimpática por meio do  nervo vago, sendo regulada a frequência cardíaca. O aumento da resistência do ar inspirado/expirado, devido ao fechamento parcial da glote durante o ujjayi, resulta em maior variabilidade da frequência cardíaca (variação do tempo entre os batimentos cardíacos) sem aumento da frequência respiratória, e numa maior tolerância aos níveis de CO2 no sangue, com uma consequente optimização da resposta dos barorreceptores que controlam a pressão sanguínea (actividade simpática). O organismo do praticante adapta-se para tolerar maiores níveis de stress e exercícios mais exigentes.
Num nível mais avançado, sucedem as arritmias respiratórias (apneias espontâneas - kumbhaka),  que são muito comuns nas alterações respiratórias durante meditação,  e já confirmadas nas pesquisas que averiguam estes estados de consciência. As arritmias respiratórias espontâneas, assim como a menor sensibilidade quimiorreflexa (aumento de CO2 sanguíneo sem elevação da Frequência respiratória) podem provocar uma maior dilatação dos alvéolos, que por sua vez, estimulam o nervo vago do tronco encefálico em comunicação com o tálamo, o sistema límbico (incluindo hipotálamo) e o córtex sensorial-motor. Todos estes factores, em conjunto parecem aumentar a atenção e a vigilância, libertar e inibir a secreção de alguns neurotransmissores e diminuir a activação encefálica em algumas áreas do cérebro. São estimuladas as funções intelectuais.
Também por acção reflexa é normalizado o funcionamento da glândula tiróide  e de todo o sistema endócrino.
No Ujjáyi, a contracção de todo o plexo laríngeo pode ser ajudada com Khechari Mudrá, o gesto de voltar a língua para cima e para trás, enrolando-a e pressionando-a contra o palato mole,  gesto com profundo efeito a nível energético e espiritual (Khechari significa literalmente “flutuar pelo espaço”)
A capacidade de consumo de O2 aumenta exponencialmente  após o Ujjáyi, com um pequeno Kumbhaka (apneia) no final da inspiração. Como sabemos o Kumbhaka (retenção da respiração com pulmões cheios está associado a aumentos  da frequência cardíaca, tanto na inspiração como na expiração, o que sustenta a maior necessidade parassimpática em todos os estágios do Ujjáyi).
Também como benefício, temos o desprendimento de mucosidades acumuladas nas vias respiratórias
Com a devida atitude mental (consciência testemunha – sakshi – contacto com o eu profundo -  equanimidade), oferece-se o desprendimento de padrões inconscientes que condicionam os nossos processos fisiológicos e mentais.



 



Definição de Hemoglobina:
A hemoglobina (frequentemente abreviada como Hb) é a proteína que contém ferro e transporta oxigénio através dos glóbulos vermelhos (eritrócitos) pelo organismo, para as todas as partes do corpo irrigadas por vasos sanguíneos.
A distribuição é feita através da interacção da hemoglobina com o oxigénio do ar (que pode ser inspirado ou absorvido, como na respiração cutânea). Devido a isto, forma-se o complexo oxi-hemoglobina, representado pela abreviatura HbO2. Chegando às células do organismo, o oxigénio é libertado e o sangue arterial (vermelho) transforma-se em venoso (vermelho arroxeado). A hemoglobina livre pode ser reutilizada no transporte do oxigénio.
Definição de Mioglobina:
A mioglobina é uma proteína de baixo peso molecular, encontrada nas musculaturas esquelética e cardíaca.
Quando a concentração de oxigénio diminui ao nível das células musculares, o oxigénio dissocia-se da mioglobina, suprimindo assim a sua falta.
A mioglobina do tecido muscular armazena oxigénio. Quando há falta de oxigénio (p. ex., no exercício intenso), o oxigénio armazenado é libertado e será utilizado, na mitocôndria do músculo, para a síntese de ATP.
Efeito de Bohr
A afinidade da hemoglobina pelo oxigénio depende de vários factores:
·        Do pH, pois a acidez estimula a libertação de oxigénio assim diminuindo a afinidade/apego da hemoglobina ao oxigénio.
·        Da concentração de CO2, pois o aumento da sua concentração reduz a afinidade/apego da hemoglobina ao oxigénio.
Portanto, níveis mais elevados de CO2 e H+ (iões de hidrogénio ou protões) nos capilares de tecidos num metabolismo activo promovem a libertação do O2 da hemoglobina, enquanto que o efeito recíproco ocorre nos capilares alveolares, no qual a alta concentração de O2 liberta CO2 e H+ da hemoglobina, assim como altas concentrações de H+ e de CO2 nos tecidos activos, libertam O2.
Estes elos entre a ligação do O2, H+ e CO2 são conhecidos como o efeito de Bohr.

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