segunda-feira, 31 de agosto de 2009


Anatomia do Súrya Namaskára A Saudação ao Sol

A adoração do Sol esteve sempre presente nas primeiras civilizações, a par com a adoração do Fogo. Sob diferentes nomes, o Sol foi sendo considerado uma divindade ao longo dos tempos, um Deus doador de vida. Apesar de a Ciência não encarar o Sol como uma divindade, não deixa de prestar-lhe homenagem considerando-o o Astro-Rei, a Estrela, que por efeito gravitacional da sua massa, domina o sistema planetário, que incluí a Terra. Mediante a sua energia electromagnética, o Sol comporta toda a energia que mantém a vida na Terra, porque todo o alimento e combustível advém, em última análise, das plantas que utilizam a energia da luz do Sol. Graças ao Sol distinguimos as direcções (percepção espacial) e deslizamos no tempo (percepção temporal).
Nos textos sagrados da Índia, o Sol é visto como a manifestação material e vísivel do Deus Brahma, criador do Universo, como a fonte de todas as formas de vida, como a própria inteligência que anima o nosso corpo e graças à qual existimos. É visto como a alma dos seres vivos e não vivos, cujos raios se dispersam para podermos ver a nossa verdadeira essência. O Sol, Savitur ou Surya, também é conhecido como Hiranyagarbha (semente dourada).

Aliando a forma, a energia e o ritmo, a saudação ao Sol prepara a mente para a meditação, como se de “uma fórmula de geometria divina” se tratasse.

Os movimentos desta Sequência aumentam e regulam o fluxo de prána, a energia súbtil que circula no corpo, removendo bloqueios e beneficiando-nos com o poder de canalizar sabiamente esta energia. Uma pessoa muito mental e introspectiva é beneficiada se executar o Surya Namaskara mais rápido e uma pessoa muito activa e agitada pode ser beneficiada praticando-o mais lentamente.
Ajudando a dispersar a energia estagnada (tamas), esta sequência permite uma libertação de espaço para que possa ser colocado em circulação, prána renovado. Tamas, a inércia é aqui, eliminada através do accionamento de rajás (movimento/repetição) para purificação (calor – forte estímulo do plexo solar onde são cozinhados os alimentos e a força de vontade), abrindo caminho para um estado sátvico, equilibrado.
A nível subtil (Sukshma sharira) e com a devida introspecção e entusiasmo, aumenta a concentração e a estabilidade mental; aquietam-se os pensamentos. Gera-se maior disposição (aquecimento e ritmo), vitalidade (estímulo das glândulas supra-renais e timo) e equilíbrio (permanência no momento presente, longe de todas as ansiedades).
A forma como se realiza a sequência assemelha-se ao ritmo do Universo: O ciclo dos 12 ásanas (para cada lado) representa as 24h do dia, os 12 meses do zodíaco/relógio e o bio-ritmo do corpo. Cada movimento simula a posição dos ponteiros de um relógio imaginário, como se fossemos um relógio de Sol, um templo do Sol. Também o próprio ciclo do sol resume a existência humana (jovem pela manhã, maduro pelo meio-dia e velho ao entardecer). Esta saudação visa a harmonização do ser com o Universo.

O Surya Namaskara, a nível físico (sthula sharira) desenvolve os principais grupos musculares do corpo e promove o seu alongamento não apenas na periferia do corpo, mas também em todas as secções da coluna vertebral. Trata-se de uma sequência de ásanas combinados com a respiração (nasal) que permite manter a coluna no seu estado saudável, fortalecer/estimular todos os nervos que saem da espinal medula, criar mobilidade nas diferentes articulações, massajar os órgãos internos e estimular os sistemas respiratório e circulatório sanguíneo e linfático.
“O ar tece o Universo” Bṛhad Āraṇyaka Upaniśad, III:7.2
“A respiração tece o Homem” Atharva Veda, x:2.13
A saudação ao Sol contrai e relaxa alternadamente diversos grupos musculares, criando uma acção de bombeamento nas veias com o consequente aumento de retorno do sangue venoso ao coração. O músculo cardíaco é utilizado na sua máxima capacidade harmonizando ritmo e frequência cardíacos. Verifica-se um maior afluxo de sangue em circulação em órgãos vitais como os rins e fígado (principais responsáveis pela desintoxicação do corpo) e pâncreas (que produz importantes enzimas lançadas nos intestinos para transformar os nutrientes em elementos mais simples facilitando a sua absorção; e que produz a insulina para regulação dos níveis de açucar no sangue).
Durante esta sábia união entre a respiração e o movimento, que absorve/foca completamente a mente, o músculo diafragma e os diversos músculos acessórios envolvidos na respiração movimentam o ar para dentro e para fora dos pulmões como se de um ritual se tratasse. Esta acção, aqui optimizada, melhora as trocas gasosas entre o O2 e CO2 ao nível do sangue, harmoniza o fluxo e profundidade da respiração com a consequente regulação do ph sanguíneo. Todo o calor gerado pelo corpo durante a saudação ao Sol, eleva a temperatura provocando a dilatação dos vasos sanguíneos da superfície do corpo. Assim, a vasodilatação combinada com a transpiração (libertação de água, sais minerais e algumas toxinas), dissipa o calor e regula a temperatura, impedindo o sobreaquecimento. O calor aumentado também aumenta a circulação de sangue por todo o corpo fazendo com que os tendões e ligamentos fiquem mais maleáveis. É estimulada a circulação do líquido sinovial que circula nas articulações suprindo de nutrientes as cartilagens e facilitando a remoção de matérias mortas nos espaços entre as articulações. Lembremos que nesta sequência como em qualquer ásana, é o molde do ásana que se adapta ao corpo e não o contrário pois cada Yogui tem a sua estrutura particular.

Sem comentários: